quarta-feira, março 07, 2007

leitura março 2007: "O Físico Prodigioso" Jorge de Sena



O "Físico Prodigioso" (Edições ASA de Bolso) é um romance de 113 páginas, lê-se num instante!

É considerada a obra-prima de um dos vultos cimeiros da nossa literatura moderna: Jorge de Sena.


Jorge de Sena (1919-1978) foi poeta, ficcionista, dramaturgo, ensaísta e tradutor. Era licenciado em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia do Porto. No Brasil, onde se radica em 1959 (fugindo da ditadura salazarista que atentava contra os princípios da liberdade de expressão), doutora-se em Letras e rege as cadeiras de Teoria da Literatura e de Literatura Portuguesa. A partir de 1965 passa a viver nos EUA, onde foi professor catedrático na Universidade de Wisconsin e, depois, na Universidade da Califórnia. A sua vasta obra e a sua personalidade ímpar há muito o consagraram...

Pequena nota introdutória ao romance, pelo autor:

"(...)a história era tenebrosa/belíssima, e anotava certos aspectos do seu experimentalismo formal. Tembém este experimentalismo - e poucas das minhas histórias e de contemporâneos meus o terão tanto como esta minha - afasta O Físico Prodigioso de qualquer conceito de «clássico», que nao seja o daquilo que tal se torna. Com efeito, o experimentalismo narrativo, jogando com o espaço, o tempo, a repetição variada do texto, etc., é uma das bases essenciais desta novela, como o é a Idade Média ou algo de semelhante, fantástica, em que a situei. Esta «época», dando-me uma distância «pseudo-histórica», permitia-me uma liberdade de imaginação em que o fantástico, com todas as implicações eróticas e reolucionárias como eu sentia ferver em mim na pessoa do «físico», podia ser usado para tudo. Por isso, e num sentido interior, eu já alguma vez disse que pouco do que eu alguma vez escrevi é tão autobiográfico como esta mais fantástica das minhas criações totalmente imaginadas. Igualmente me permitiu, como atmosfera, e para reforçar o tom poético da narrativa (que poderiamos dizer que é uma epopeia em prosa), inserir numerosos elementos supostos tradicionais, que todavia são criação minha, como cantigas de amigo e «romances».
E basta de explicações, uma vez que O Físico Prodigioso, ao que posso deduzir da fé que tenho nele e que outros igualmente têm tido, sabe perfeitamente viver ou morrer (para mais viver) inteiramente por si mesmo, sustentado pela força do amor que tudo manda, e pelo ímpeto da liberdade que tudo arrasa.

Santa Bárbara, Califórnia, Março de 1977

Jorge de Sena "
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Fica aqui a recomendação desta leitura. É algo pouco convencional, diria mesmo estranho, mas, por isso mesmo, vale a pena confrontar-nos com esta experiência.
As técnicas narrativas e a linguagem usadas são experimentais, interessantes, apesar nos remeterem para a Idade Média e para o imaginário típico da época. No fim da leitura, se nada mais ficar, restarão ao menos mais alguns conhecimentos da língua portuguesa, uma vez que Jorge de Sena escreve com uma correcção e clareza admiráveis.
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