sábado, março 22, 2008

Milan Kundera - A Insustentável Leveza do Ser

"Mas, na verdade, será o peso atroz e a leveza bela?O fardo mais pesado esmaga-nos, verga-nos, comprime-nos contra o solo. Mas, na poesia amorosa de todos os séculos, a mulher sempre desejou receber o fardo do corpo masculino. Portanto, o fardo mais pesado é também, ao mesmo tempo, a imagem do momento mais intenso da realização de uma vida. Quanto mais pesado for o fardo, mais próxima da terra se encontra a nossa vida e mais real e verdadeira é.Em contrapartida, a ausência total de fardo faz com que o ser humano se torne mais leve do que o ar, fá-lo voar, afastar-se da terra, do ser terrestre, torna-o semi-real e os seus movimentos tão livres quanto insignificantes.Que escolher, então? O peso ou a leveza?" Milan Kundera

sábado, julho 28, 2007

About Art...

"The imagination and personality of the individual cannot be trapped by small minds or defined by anyone. The genius of art finds sanctuary among children and madmen to survive. That, is who we are." - Marilyn Manson

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sexta-feira, julho 06, 2007

"Embriaga-te" - Baudelaire (O Spleen de Paris)


"Devemos andar sempre bebâdos. Tudo se resume nisto: é a única solução. Para não sentires o tremendo fardo do Tempo que te despedaça os ombros e te verga para a terra, deves embriagar-te sem cessar.
Mas com quê? Com vinho, com poesia ou com virtude, a teu gosto. Mas embriaga-te.
E, se alguma vez, nos degraus dum palácio, sobre as verdes ervas duma sala, na solidão morna do teu quarto, tu acordares com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, pergunta ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunta-lhes que horas são:«São horas de te embriagares! Para não seres como os escravos martirizados do Tempo, embriaga-te, embriaga-te sem cessar! Com vinho, com poesia, ou com virtude, a teu gosto.»"

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Henry Miller - "Trópico de Capricórnio"


"As coisas acontecem instantaneamente, mas primeiro passa-se por um longo processo. O que sentimos quando acontece alguma coisa é apenas a explosão e, um segundo antes, a centelha. Mas acontece tudo de acordo com a lei e com o inteiro consentimento e colaboração do cosmos."

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segunda-feira, junho 25, 2007

25 de Junho de 2007 - 4:00 a.m

Os dias sucedem-se e a inércia parasita o meu ser. Animal infernal que se instalou mesmo nas minhas raízes. Porém, são essas raízes que me fazem estar mais perto do céu. Quando, por fim, a minha força se manifesta, só posso concluir que possuo a força de um deus do Olimpo. Não importa que nunca tenham existido tais divindades, mas importa o facto de eu ter a capacidade de me sentir divina e poder contemplar, do Olimpo, a humanidade. A inércia instala-se para justapor as forças e para refrear esses voos tão altos a que a minha mente se devota. Do Hades ao pico mais alto do Olimpo, só os deuses conseguem desbravar esse caminho e eu sou um deus, como suportaria eu não sê-lo?


Alguns dirão que este é o relato de um ser narcisista e egocêntrico. Mas eu digo: trata-se do relato de alguém que matou Deus dentro de si e agora não lhe resta outra solução que substituir essa personagem por si mesmo. Eu sou eu, eu sou Deus, em mim, eu basto-me para olhar o mundo e para morrer nele e para ele.

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sexta-feira, junho 01, 2007

1 de Junho de 2007, 3:20 a.m

Procuro condensar o que escrevo para que daí as emoções brotem com maior força. Mas, ao condensar, torno-me vaga, sem que o sentido das palavras realmente se liberte e se torne explícito. Por isso, estava na hora de fazer um pequeno reparo a esta minha acção condensadora e, temporariamente, pô-la de lado para deixar a corrente da consciência se espalhar indefenidamente por esta tela.

Nada mais fácil, nada que possa aliviar mais! Deixar-me escorrer, sem medo de escrever, sem medo do golpe que o significado condensado provoca em nós. Simplesmente, fluir...finalmente, deixar-me respirar: O2, o significado; CO2, o significante.

Quantas vezes, inalo esse ar de significados e sinto que me fazem viver, pela necessidade que sinto de significar o mundo! Também criei alguma imunidade aos gases tóxicos, mas deles sofro sequelas irreparáveis e que para sempre me atormentarão. O significante, inale-o quem quiser, tantas vezes em excesso, poluído, deturpado, injectando para o seu interior significados menos próprios, ou não, à sua condição de revelador tóxico, cómodo e viciante.

Ao esforçar-me acabo por fazer o contrário do que me propus. Acabo de criar uma metáfora, acabo de condensar numa ampola todo o O2 que inspirei, onde a ampola é um invólucro carbonizado, deteorado pelo eterno devir histórico do mundo.

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quarta-feira, março 07, 2007

leitura março 2007: "O Físico Prodigioso" Jorge de Sena



O "Físico Prodigioso" (Edições ASA de Bolso) é um romance de 113 páginas, lê-se num instante!

É considerada a obra-prima de um dos vultos cimeiros da nossa literatura moderna: Jorge de Sena.


Jorge de Sena (1919-1978) foi poeta, ficcionista, dramaturgo, ensaísta e tradutor. Era licenciado em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia do Porto. No Brasil, onde se radica em 1959 (fugindo da ditadura salazarista que atentava contra os princípios da liberdade de expressão), doutora-se em Letras e rege as cadeiras de Teoria da Literatura e de Literatura Portuguesa. A partir de 1965 passa a viver nos EUA, onde foi professor catedrático na Universidade de Wisconsin e, depois, na Universidade da Califórnia. A sua vasta obra e a sua personalidade ímpar há muito o consagraram...

Pequena nota introdutória ao romance, pelo autor:

"(...)a história era tenebrosa/belíssima, e anotava certos aspectos do seu experimentalismo formal. Tembém este experimentalismo - e poucas das minhas histórias e de contemporâneos meus o terão tanto como esta minha - afasta O Físico Prodigioso de qualquer conceito de «clássico», que nao seja o daquilo que tal se torna. Com efeito, o experimentalismo narrativo, jogando com o espaço, o tempo, a repetição variada do texto, etc., é uma das bases essenciais desta novela, como o é a Idade Média ou algo de semelhante, fantástica, em que a situei. Esta «época», dando-me uma distância «pseudo-histórica», permitia-me uma liberdade de imaginação em que o fantástico, com todas as implicações eróticas e reolucionárias como eu sentia ferver em mim na pessoa do «físico», podia ser usado para tudo. Por isso, e num sentido interior, eu já alguma vez disse que pouco do que eu alguma vez escrevi é tão autobiográfico como esta mais fantástica das minhas criações totalmente imaginadas. Igualmente me permitiu, como atmosfera, e para reforçar o tom poético da narrativa (que poderiamos dizer que é uma epopeia em prosa), inserir numerosos elementos supostos tradicionais, que todavia são criação minha, como cantigas de amigo e «romances».
E basta de explicações, uma vez que O Físico Prodigioso, ao que posso deduzir da fé que tenho nele e que outros igualmente têm tido, sabe perfeitamente viver ou morrer (para mais viver) inteiramente por si mesmo, sustentado pela força do amor que tudo manda, e pelo ímpeto da liberdade que tudo arrasa.

Santa Bárbara, Califórnia, Março de 1977

Jorge de Sena "
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Fica aqui a recomendação desta leitura. É algo pouco convencional, diria mesmo estranho, mas, por isso mesmo, vale a pena confrontar-nos com esta experiência.
As técnicas narrativas e a linguagem usadas são experimentais, interessantes, apesar nos remeterem para a Idade Média e para o imaginário típico da época. No fim da leitura, se nada mais ficar, restarão ao menos mais alguns conhecimentos da língua portuguesa, uma vez que Jorge de Sena escreve com uma correcção e clareza admiráveis.
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quinta-feira, julho 06, 2006

12 de Janeiro, 2002


12 de Janeiro de 2002 (23:45)

Aqui sentada imagino que o Tempo passa.
Posso até ouvir as articulações dos membros do ancião do universo...cansadas, enfraquecidas pela microscópica presença de um mundo povoado.
Esses seres que inventaram o relógio... como se sentirá o Tempo? Rodando ao ritmo de todos os segundos de todos os relógios do mundo? Não me admira que esteja cansado e dilacerado em tais engrenagens!

Não pode parar...se parar cai num abismo sem fim!

NS



"Cronos, devorando um dos seus filhos" (Goya)

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9 de Abril, 2002


9 de Abril de 2002 (23:00)

(No meu quarto, ouvindo exactamente "lost in a roman wilderness of pain/ and all the children are insane")

[ reflexões sobre a natureza caótica do mundo, sobre deus e sobre a ciência, etc...]

Imagine-se... um planeta, um berlinde no meio de um universo infinito...
A humanidade...um pó palpitante e irritante a cobrir a sua superfície esférica...
Um alarido... digno para a inspiração de Dante...
Mas que importância se atribui a si próprio um átomo efusivo... será porque com a sua irreverência tenha sido capaz de assombrar toda a história do universo?
Desde o Big-Bang?
Até, pateticamente, ao Big-Crash?
Tudo pela Omnipotência... há que tornar-se "deus"...

NS

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2 de Junho, 2002

2 de Junho de 2002 (22:00)

O meu cérebro, agora, ou antes do agora, assemelhava-se a uma visão vertiginosa do universo...

Mais calma - por me ter situado - repouso nesta folha, apoiada na bengala que o meu lápis representa... e com esse pau vou fazendo riscos na areia... com a ponta do guarda-chuva também.

Já não posso parar de pensar... o génio saltita ingenuamente, provocando um estranho alarido na minha mente...

A criança, por vezes, lembra-se de mim e pregunta-me: Quando é que vamos brincar aos sonhos? Essa criança é uma vaga lembrança que me perturba incansável como o ruído tempestuoso de um rápido.

.......................... Break ...................... on .................... Through .......................

..............to.................the .............................other.......................side...............................................

Sinto, nos meus pés, o gemido das folhas velhas...será a floresta?
Escuridão, não vejo nada... apenas sinto o estalar de cadáveres em decomposição sob os meus pés... estranhos veludos, fluídos viscosos... animais que ainda palpitam, mas ofegantes.

O que aconteceu neste lugar?
Quem ousou cometer este crime?
Mas porquê eu...aqui!

No meu bolso, uma flor vermelha.
Seja uma papoila.
Diz-me: quem fez isto?

A sua luz não me respondeu e deixou-me de novo na escuridão.

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6 de Julho, 2006


PIMPF... derruba-se o silêncio!

Passos, lentos....ouço passos em direcção à porta do meu quarto. Ouço-os até que a porta cai e os passos entram:

- Chegas-te, finalmente... a nova vaga - digo para mim...

Fico estática, com o olhar pregado no tecto, suspenso como um candeeiro que pretende o parodoxo de ser iluminado.

Penso sobre o pensamento.
Curativo o acto de pensar.
A cicatriz: uma frase ambígua, uma vida ambígua como todas as vividas no campo semântico da história universal...

O penso permaneceu muito tempo colado a mim, impedindo as palavras de se soltarem como sangue e de se imprimirem no mapa onde se desenham vidas com um fio de tinta azul...

Durante o período curativo do penso a presença da música foi a tão querida morfina que me manteve cativa em catedrais onde todo o som se torna magnificiente... porém, desesperantes se tornavam os ecos que rebolavam nas paredes deste cérebro ancestral...

Fluxos vitais haviam sido reprimidos, apenas sons escapavam entre as lacunas abertas de propósito para que a ferida pudesse respirar calmamente...

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